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POLÊMICA
O gramado contra-ataca
Troca de canteiros por cimento provoca revolta
e ação de moradores no Jardim da Saúde
FLÁVIA MANTOVANI
Uma obra aparentemente benéfica para a população desagradou a moradores do Jardim da Saúde (zona
sul) e gerou abaixo-assinado, ação na Justiça e a suspensão do projeto pela subprefeitura do Ipiranga. A ideia
era instalar equipamentos de ginástica para a terceira idade no canteiro central de duas avenidas arborizadas, a
Osvaldo Aranha e a Antônio Carlos da Fonseca,
uma continuação da outra.
O problema é que, para isso, foram feitos retângulos de concreto em nove áreas, retirando a grama e algumas
plantas. Segundo a AMJS (Associação de Moradores do Jardim da Saúde), isso é ilegal, pois o tombamento do
bairro, de 2002, protege a vegetação e as áreas permeáveis.
Gabriel de Oliveira, vice-presidente da associação, diz ter sido alertado do problema no início de setembro, por
moradores -muitos deles idosos, inclusive. "Instalar equipamentos
de ginástica poderia ser bom no lugar adequado, como numa praça. O canteiro central de uma avenida é
perigoso. E a área é tombada, não poderiam mexer." Ele afirma que a entidade contatou a subprefeitura
desde o início das obras, mas demorou a ser atendida.
"O que mais nos deixa perplexos é que isso fere uma norma criada pela própria prefeitura", diz o advogado
Heitor Marzagão, diretor da AMJS, que entrou na Justiça contra o projeto. Oliveira diz que os moradores só
foram recebidos há duas semanas pela subprefeitura, que se comprometeu a retirar o concreto e a voltar com o
gramado. A ação foi suspensa
por 90 dias. "Houve acordo, mas o dinheiro gasto à toa saiu dos cofres públicos", diz Oliveira. A obra foi
orçada em R$ 63.991.
Medo de ladrões
A cimentação das áreas verdes foi o foco do protesto da associação, mas o que mais mobilizou os
moradores foi o medo da insegurança. Segundo eles, os aparelhos chamariam usuários de drogas e ladrões,
que poderiam observar a movimentação nas casas, muitas de classe média alta. "Pra que fazer isso? Pra juntar
bandido, malandro, maloqueiro?", questiona a moradora Luciana Costa, 39. Ela diz ainda que seus pais, de 71
e 73 anos, nunca usariam os equipamentos. "Canteiro central não é o lugar adequado. E teria que ter
instrutor." Para ela, mais necessário seria podar as árvores e fazer a manutenção do gramado.
O advogado Clóvis Machado, 79, morador do local há 48 anos, também acha que as mudanças tirariam sua
tranquilidade. A filha dele impediu que fosse concretado mais um retângulo em frente à casa do pai. "Foi ela
que plantou aquela mangueira."
Já o aposentado Hiroshi Miwa, 72, diz que a princípio achou os aparelhos uma boa ideia, mas acabou
acatando a decisão da maioria. "Achei que seria bom, mas muitos acham que vão aumentar os assaltos."
A sãopaulo esteve no bairro na última terça-feira e o concreto ainda estava lá. Também havia pedaços do
meio-fio, retirados pela obra, jogados na grama. A subprefeitura reiterou que devolverá a permeabilidade da
área e disse que os aparelhos serão instalados em outro local, a ser definido com a comunidade.
"Instalar aparelhos de ginástica seria bom no lugar adequado. Mas
o canteiro é tombado"
GABRIEL DE OLIVEIRA, vice-presidente da associação de moradores do bairro
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